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Cursos on-line já atraem mais de 5 milhões de alunos, com aulas até de como fritar ovo.
31/05/2019
Ganho do instrutor na internet, em alguns casos, pode ultrapassar R$ 1 milhão.

O custo mais baixo e a facilidade de estudar em qualquer lugar, a qualquer hora, têm atraído cada vez mais estudantes no país para o ensino na internet. De acordo com o último Censo da Educação Superior, relativo a 2017, um em cada cinco alunos matriculados em cursos universitários no país está na modalidade de ensino a distância (EAD). São 1,8 milhão de brasileiros em 2.108 cursos de graduação, mas o número total de pessoas fazendo uso da tecnologia para aprender é muito maior.

Nos últimos anos, o mercado de cursos livres explodiu no país, com a chegada de grandes plataformas e a ampliação do portfólio ofertado, abrindo um campo de oportunidades para profissionais que estão faturando alto ensinando a outros o que sabem.

— É difícil dizer um número objetivo, porque os cursos livres não são controlados pelo Ministério da Educação (MEC), mas, se temos em torno de 2 milhões de estudantes nos cursos regulados, nos livres existem, seguramente, mais de 5 milhões — estima Nelson Boni, conselheiro da Associação Brasileira de Educação a Distância. — Há pouco tempo, os cursos livres eram basicamente de línguas estrangeiras, concurso e vestibular. Hoje, se ensina de tudo, de como fritar um ovo a como programar computadores. O mercado cresceu, surgiram plataformas, as universidades investiram, houve uma expansão da educação corporativa.

Alunos em 75 países

André Fontenelle foi um dos pioneiros no uso de vídeos para educação. Em 2005, ano em que o YouTube foi fundado, ele começou a gravar vídeos para ajudar alunos que frequentavam seus cursos presenciais de informática. O que surgiu como material de apoio se tornou um negócio dois anos depois, quando ele começou a vender as aulas. A aposta deu tão certo que, em 2013, fechou os laboratórios e passou a se dedicar exclusivamente ao ambiente virtual.

— Comecei a trabalhar de casa e aumentei o número de alunos — diz Fontenelle. — O boom aconteceu em 2017, quando coloquei os cursos na plataforma Udemy. Hoje, só na plataforma, tenho quase 140 mil alunos em 75 países.

O instrutor oferece 17 cursos na área de programação, design e desenvolvimento web, que custam entre R$ 39 e R$ 579, mas a plataforma, de tempos em tempos, faz promoções. Do valor de cada venda, Fontenelle recebe 50%, e a outra metade vai para a plataforma. Basta fazer as contas para perceber que a receita é alta, superando R$ 1 milhão em menos de dois anos. A taxa parece excessiva, mas cobre a captação de alunos e toda a burocracia com pagamentos e impostos.

— Eu consigo focar no que importa, que é o aprendizado — diz Fontenelle.

O analista de sistemas Jamilton Damasceno tem uma trajetória semelhante. Começou a carreira nas salas de aula, como professor de informática, para bancar a faculdade. Após a formatura, trabalhou em escritório, desenvolvendo aplicativos para dispositivos móveis. Em meados de 2015, procurou a Udemy para fazer um curso, não encontrou e decidiu montar um. No ano seguinte, pediu demissão para se dedicar à carreira de instrutor.

Hoje, oferece 14 cursos, que já atraíram mais de 140 mil alunos. O faturamento mensal varia, mas, em média, fica entre R$ 20 mil e R$ 30 mil, bem acima do que ganharia como programador.

— Vejo colegas investindo alto para comprar um apartamento e gerar renda extra com aluguel. É muito melhor investir três, quatro meses, montando um curso. Se der certo, consegue a mesma renda sem precisar se endividar — compara Damasceno.

A Udemy começou a operar no Brasil em 2015 e, em maio do ano passado, abriu um escritório em São Paulo. No mundo, possui mais de 30 milhões de alunos. Sergio Agudo, diretor da filial brasileira, conta que a plataforma tem mais de 6 mil cursos em português e diz que o país está entre os cinco maiores mercados da companhia.

— A gente trouxe capilaridade para esse mercado. Nós oferecemos cursos de praticamente tudo, de ioga a Excel. Temos até um curso de como fazer feijão — diz Agudo.

Qualidade é essencial

Qualquer pessoa que tenha conhecimento aprofundado num assunto pode se tornar instrutor, não é preciso ter formação acadêmica ou experiência em sala de aula. Agudo, porém, ressalta que qualidade é essencial. Não se trata de montar vídeos como youtubers e começar a falar em frente à câmera. Os cursos são estruturados, com exercícios e uso de outros recursos didáticos, como apostilas.

Com a bagagem de ter sido um dos Mutantes, tocado com estrelas da MPB e seis discos solo, o pianista Luciano Alves encontrou nos cursos on-line uma forma de disseminar seu conhecimento. Ele ressalta, no entanto, que as aulas presenciais ainda têm a vantagem de serem personalizadas.

— Além disso, o presencial obriga o aluno a estudar assiduamente, pois ele não quer passar vergonha na aula — compara o músico.

Outras plataformas estão se abrindo para os instrutores. O portal de cursos livres da Kroton, um dos maiores conglomerados do setor educacional, começou com produção própria, mas há dois anos se abriu para parceiros. O foco é no desenvolvimento profissional, mas há espaço para outros temas.

— A gente acredita que todo e qualquer professor ou conteudista, lógico que com curadoria interna, pode contribuir para a formação dos estudantes — afirma Vitor Mizukawa, gerente de Marketing, E-commerce e Inteligência da Kroton.

Como se tornar um instrutor?

- Qualquer pessoa, com conhecimentos aprofundados em algum assunto, pode se tornar um instrutor de curso on-line para disputar espaço nas plataformas abertas. Faturar alto é possível, mas não é fácil.

- É preciso estruturar as aulas com conteúdo de qualidade e, o mais difícil, conquistar a atenção dos alunos.

- Sergio Agudo, diretor do escritório brasileiro da Udemy, recomenda que iniciantes façam gravações curtas, de poucos segundos, e enviem o material para que a parte técnica seja avaliada.

- Para o instrutor Jamilton Damasceno, os iniciantes devem aproveitar o tempo livre, à noite e nos fins de semana, para produzir o primeiro curso. Para começar, equipamentos baratos dão conta. Os vídeos podem até ser gravados com o celular, com um microfone para a captação de áudio.

- E a dica mais importante: tratar bem os alunos, pois as plataformas dão destaque aos cursos mais bem avaliados por eles.

Cuidado com as armadilhas

O número de cursos livres disponíveis na internet é incalculável. São milhares de opções, para todos os gostos e bolsos, mas nem todos cumprem o prometido.

Nelson Boni, conselheiro da Associação Brasileira de Educação a Distância, faz algumas recomendações para entrar em um curso. A primeira é procurar informações sobre o instrutor ou a instituição que produziu o material. Verificar se a instituição é séria, checar sites de reclamações e ler as avaliações, principalmente as negativas.

Outro ponto a ser considerado é o preço. No mercado, existem desde cursos gratuitos até os que cobram valores absurdos. Boni também recomenda que os estudantes procurem informações sobre o material didático ofertado. Um bom curso combina videoaulas com conteúdo escrito.

— É preciso pesquisar muito, esse mercado não para de crescer — diz Boni. — Tem muita coisa boa, mas tem muita porcaria também.

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